domingo, 13 de agosto de 2006

Gravadoras continuam tentando manter seus lucros imensos sobre o suor dos artistas

Galera, li esse editorial no site do Charges.com.br. Embora tenha sido encontrado lá não é piada ou brincadeira. O assunto é sério. Leiam:

Fim de uma era

Fiquei chocado ao ler sobre a nova estratégia das gravadoras pra sobreviver num mercado assolado pela pirataria: agora elas cobram 10% do faturamento dos shows de seus novos artistas.

Não bastassem os contratos leoninos, que pagam uma merreca pro autor da obra; não bastasse a falta de transparência nos números de venda sobre os quais os direitos autorais são pagos (as gravadoras nunca aceitaram a idéia de numerar os CDs) elas agora querem ganhar sobre o suor que o artista derrama no palco.

Nenhuma relação com os dízimos cobrados pelas igrejas. Neste caso é “taxa de proteção” mesmo, como aquele mensalão cobrado pela máfia, ou pelo crime organizado brasileiro, dos pobres comerciantes. A justificativa é que elas “investem no artista” e como o mercado fonográfico está em crise, só os artistas faturam com os shows.

Cobrar dízimo é um gesto desesperado. A verdade é que assistimos aos estertores de uma indústria corrupta, incompetente e que não mantém a dignidade nem no histórico momento em que, finalmente, décadas de abusos dão lugar a uma nova ordem.

Vocês devem estar surpreendidos com a veemência da minha crítica. Claro que não baixo o malho de graça: uma vez fui, como membro de uma banda de rock nos anos 80, um desses “novos artistas” lançados pelas gravadoras multinacionais. Vi bem como a máquina funciona. Meu disco fracassou, mas lembrem-se de que a maioria dos artistas de sucesso também têm problemas com seus contratantes, e fazem críticas igualmente veementes. Logo, não se trata de ressentimento, é puro conhecimento de causa.

Pra vocês verem como as gravadoras não são meras vítimas, vamos aos fatos:

1 – Elas pagam jabá. Todo mundo sabe disso. O que elas fazem com as grandes redes de rádio é pura corrupção ativa, digna de corar até nossos deputados federais. Pra tocar determinados discos, dão mimos, dinheiro, viagens. E o artista independente e pobre, que tenta um lugar ao sol com seu talento e coragem, só encontra portas fechadas.

2 – Elas não se preocupam com a qualidade artística. As gravadoras poderiam ser um filtro qualitativo, dando visibilidade aos grandes talentos. Já foi assim, mas há décadas não é mais. O negócio é vender por vender. Seja o lixo que for. Fabricam falsos ídolos, seduzem adolescentes inocentes e cheios de hormônio substituindo a boa música por corpos esbeltos e rostinhos bonitos. Tratam suas bandas e cantores como iogurtes com prazo de validade: saiu de moda? Tchau.

3 – São empresarialmente incompetentes. Alguém ainda duvida? Quando os velhos discos de vinil foram substituídos pelo CD, faturaram milhões vendendo de novo os mesmos fonogramas numa nova mídia. Eu mesmo refiz minha coleção toda. Até então estava tudo bem, claro. Mas aí veio o MP3 e o que eles fizeram? Demoraram tanto pra se adequar à realidade que a pirataria tomou conta de tudo. Tivessem desde o início achado um modelo pra cobrar R$ 1 real que seja por música, dando ao consumidor a opção de montar ele mesmo seus CDs com as músicas preferidas, nada disso teria acontecido. O sucesso do iTunes nos EUA e Europa prova que o modelo funciona. Mas não... A ganância era grande demais! Elas não queriam vender UMA música pelo preço que ela valia. Estava tudo indo muito bem com elas nos fazendo gastar até R$ 40 com um CD de 14 faixas, das quais aproveitamos duas ou três.

Sim, mas as coisas mudam. Hoje as gravadoras ficam chorando, chamando quem faz donwload gratuito de ladrão, dizendo que a música é um bem tangível que precisa ser remunerado. Concordo. Temos que respeitar os direitos autorais. Mas voltemos à era das vacas gordas, quando surgiu o CD: partindo do argumento de que compramos é a música, não a mídia, por que as gravadoras não ofereceram CDs de graça ou pelo menos a preço de custo, a quem já tinha pago os direitos autorais comprando discos de vinil?

Outra prova de incompetência: num mundo globalizado elas não conseguem o mínimo de planejamento necessário para promover lançamentos globais de seus artistas! Ilustro com outro exemplo pessoal: adoro rock progressivo. Amo o Pink Floyd. Aguardei com ansiedade o lançamento do novo disco solo de David Gilmour, guitarrista da banda. O disco é lindo, foi lançado lá fora há um mês. Muita gente quer comprar! Mas não está disponível até hoje nas lojas brasileiras. Tive que importar o meu. Claro que no E-mule é possível baixá-lo inteirinho e de graça em duas horas. E é claro que qualquer ouvinte que não seja colecionador fará isso.

Pois é. Hoje em dia qualquer PC é um estúdio de gravação. A Internet distribui a música. Morram, gravadoras, ou acordem: o Brasil já tem fenômenos nacionais como a Banda Calypso gravando discos independentes e conseguindo vender em loja a R$ 10.

Tenham a dignidade de se reinventar. Acabem com os jabás. Invistam em artistas que se sustentem qualitativamente a longo prazo, oferecendo a vocês mesmo um catálogo duradouro.

Mais música, menos marketing. Chega de soluções mafiosas como essa de cobrar dízimo.

Admitam que o mundo mudou. Na era digital ninguém precisa de um intermediário desonesto.

(Maurício Ricardo, criador do Charges.com.br, adora música e garante que malhar as gravadoras não é defender a pirataria)

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